Friday, December 19, 2008

Deusa da Minha Rua

A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua costuma se embriagar
Nos seus olhos, eu suponho
Que o sol, num dourado sonho, vai claridade buscar
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta é uma paisagem de festa
É uma cascata de luz
Na rua uma poça d'água, espelho da minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minh'alma comovida
E o meu pobre coração
Espelho da minha mágoa
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu, ela é nobre
Não vale à pena sonhar
(Newton Teixeira/ Jorge Faraj)

Friday, December 05, 2008

Dezembro, uma praia... O pôr-do-sol

Poderia escrever um livro inteiro sobre nós dois, mas me seria inútil, pois nunca permitiria que você o lê-se. Você arruinou a minha vida, destruiu os meus sonhos, e nisso lhe sou eternamente grato. Esqueci meus valores e adotei princípios outrem para justificar aquilo que me era tão estranho. Aprendi a esconder meus sentimentos, a sublimar o amor, a enclausurar-me hermeticamente em um mundo que só eu entenderia. Tornei-me um misantropo, um sociopata, um erro de cálculo da Mãe Natureza.

Dispersei resquícios de racionalidade por debaixo de todos os cômodos da casa. Empoeirados eles agonizam como que pedindo clemência... mas não adianta. Você me ensinou que não adianta.


...e esbraveja: “Ainda posso olhar para o céu e ver quão sádico é o senhor meu Pai. De todo o coração, eu lhe agradeço. Afinal, somos todos masoquistas em um mundo de fantoches. Você me amou, você me rejeitou, vou me deu a vida e a tirou de mim com um único golpe... você me subestimou, mas eu sei que irei perdurar e com ódio me farei digno de seu rebanho”.

Tuesday, December 02, 2008

Um lampejo existencial

"Nós não vivemos apenas na nossa própria época. Também transportamos a nossa história connosco. Não te esqueças de que tudo o que vês aqui foi outrora novo em folha.
Esta pequena boneca de madeira do século XVI talvez tenha sido feita para o quinto
aniversário de uma menina. Talvez pelo seu velho avô... Depois, chegou à adolescência, Sofia. Depois, tornou-se adulta e casou-se.
Talvez ela própria tenha tido uma filha que herdou esta boneca.
Depois, envelheceu, e um dia morreu.

Talvez tenha tido uma vida longa, mas deixou de existir. E nunca mais regressará. No fundo, ela fez aqui apenas uma curta visita. Masa boneca está na estante.

- Tudo se torna tão triste e sério quando falas assim.

- Mas a vida é triste e séria. Entramos num mundo lindíssimo, encontramo-nos aqui, apresentamo-nos uns aos outros - e caminhamos juntos mais um pouco. Depois, perdemo-nos e desaparecemos tão súbita e inexplicavelmente como viemos."


O Mundo de Sofia ( Jostein Gaarder )