Monday, May 24, 2010

"Não me esqueça-me! Eu vou voltar"


Só poder sentar um pouco e ver tudo verdinho, lindo a crescer”
(Morro Velho)

Como eu gostaria de sentar à beira de um lago, talvez com os pés imersos na água, e olhar em volta, sem pudor algum, apenas observando as formas que se desvendam diante de mim. Por certo, depois de alguns minutos eu me cansaria e cairia no riso por me achar tão estúpido. Estaria ficando louco por não conseguir distinguir mais um ser humano. Parece que não há nada à minha frente além de silhuetas borradas, garranchos existenciais que se escondem por detrás dos patos, das árvores, do passadiço; todos tão mais nítidos para mim. Arrancaria meus cabelos tentando afrontar a loucura e devanearia como um tolo no fim da vida. “E passei tantas horas tristes, que mal quero entrar neste dia”. E choro copiosamente com meus olhos esfumaçados e meus garranchos estáticos em uma moldura barata. Passam as horas e sequer os patos reconheço mais. Meus pés pesam toneladas e meus braços teimam em me abraçar e minha boca teima em balbuciar um hino qualquer, enquanto verto sangue pelo meu olhar insano. O olhar de um velho cansado de brincar de “ser”, que pede, ao menos por hoje, para “estar” aqui, neste dia, neste parque; como algo mais do que um mero detalhe na paisagem.