Saturday, August 12, 2006

Isso é realmente necessário?

Por mais que eu quisesse, não conseguiria lhe apagar de minha história.
Uma página rasgada de um diário com alguns poucos rabiscos.

Passar-se-iam mil anos até que a lembrança daquele momento se apagasse de minha memória.
Ainda lembro de seu sorriso bonito, suas palavras desconexas.
Você me olhava e dizia qualquer tolice com o verbo “gostar”.
Talvez não fosse isso o que eu queria ouvir, mas você sabe que sempre me contentei com tão pouco.

Sua atenção me era arredia.
Pegava em suas mãos a fim de lhe prender nesta dimensão.
Dezenas de tentativas mal-sucedidas.
Chorei por não saber chorar.
Virtudes desintegravam-se paulatinamente no ar.

Detive-me apenas em lhe admirar e Deus sabe como apreciei cada segundo que me foi concedido por sua impaciência juvenil.

Às vezes ainda me surpreendo olhando fotos antigas.
Fotos felizes. Todas pareciam dizer a mesma coisa...

Relutei em não ouvir, em não ver, em perceber que tudo não passava de um jogo efêmero.
Melhor assim, pois agora posso olhar para o meu passado e sorrir, pois por mais doloroso que um “adeus” pudesse vir a ser, a agonia de um “até logo” teria sido insuportável.
*Imagens de Frida Khalo

Coesão


Meta-Introdução
Interessante notar como o tempo passa rápido sob o agonizante calor dos trópicos. Ontem corria para a casa a fim de não perder um segundo sequer de meu Cartoon favorito. Hoje divido o meu tempo entre duas faculdades e a promessa de um "algo a mais" milhares de quilômetros ao norte daqui.
Há meses venho delegando a mim mesmo, compromissos, responsabilidades, tarefas que dificilmente consegui concluir... passei dias (talvez não tenha terminado) olhando para fotos antigas, lendo textos caducos; páginas velhas com layout contemporâneo.

Um Novo REcomeço
Por anos segui à risca a política do "politicamente correto". Baixei a cabeça quando não devia, omiti opinião sempre que podia e tudo o que consegui foi um punhado de sorrisos amarelados. Joguei com a sorte quando percebi que de minhas mãos nada dependia. Olhei dezenas de milhares de vezes para um amontoado de pedras sob a goteira de um barulhento ar-condicionado, todavia nenhuma de suas faces polidas acalentou minha alma. Abafei meu grito com travesseiros de espuma, pensando nos gansos que nunca conheci e, no final, dormia em face da desgraça de um alienado que julgava perseverar em meio a promessas superficiais de felicidade.

O Mesmo Fim
A trajetória de uma árvore oca, cujos frutos não passam de protótipos de boas intenções, encerra-se hermeticamente com mais um desabafo vazio.
Migalhas como esta entopem os canais que levam meu sangue até o cérebro... Ceifando mais uma possibilidade de existência.

"Frutificai-vos e multiplicai-vos e enchei a terra, subjugando-a e dominando os peixes do mar e as aves dos céus, bem como todo ser que se arrasta pela terra" (Gênese 1:28)
* Foto de Lucas Mateus