Thursday, December 02, 2010

Tive uma idéia inadequada para evitar o insuportável

" Desmoronaria em mais um sorriso apático, mas parece que todos assim o preferem. Em meio a um mundo de aparências, me lanço ao precipício "

Antes do ódio, antes dos Golpes, dos assobios e dos chicotes

Avant La Haine (tradução)

Romain Duris & Joanna Preiss

Saiba, minha linda, que os amores
Os mais brilhantes se sujam
O sol sujo do dia a dia
Submetem-lhes ao suplício

Antes do ódio, antes dos golpes
Dos assobios e dos chicotes
Antes da pena e do desgosto
Vamos terminar, por favor

Não, eu te beijo e isso passa
Você bem sabe
Não se livre de mim assim

Você acredita que vai se sair bem dessa
Me abandonando ao léu
Do grande amor que deve morrer
Mas você sabe que eu prefiro
As tempestades do inevitável
À sua pequena idéia destrutiva

Antes do ódio, antes dos golpes
Dos assobios e dos chicotes
Antes da pena e do desgosto
Você diz para terminarmos

Mas eu te beijo e isso passa
Eu sei bem
Não me livro de você assim

Eu poderia evitar o pior

Mas o melhor está por vir

Saturday, November 27, 2010

A Felicidade em Freud

O Conceito de felicidade é particularmente complexo e intrigante. Ele tanto exprime uma sensação de prazer, como também a fuga do desprazer, do sofrimento. Esta dualidade semântica me faz refletir sobre o que nos é realmente importante: ser feliz ou não ser infeliz? O que pode soar até engraçado, pois pela lógica parece que é a mesma coisa.

O prazer contínuo é inalcançável, visto que o mesmo transformar-se-ia em um bem-estar comodista, podendo provocar no ser humano uma sensação de angústia e inquietude. Não havendo mais desejos a serem realizados, o homem cairia em uma tediosa “realidade plena”. Segundo Freud, a felicidade consiste no contraste entre o prazer e o desprazer, o que faz da fuga do sofrimento uma de suas características mais importantes. Portanto não adianta querer ser feliz sem antes conhecer o medo, a angústia e o sofrimento. Sem esta bagagem, tudo é supérfluo, kitsch.

A dicotomia prazer-sofrimento também se faz presente em um sentimento considerado ainda mais elevado: o “Amor”. Não vejo necessidade em tratarmos algo apenas por uma de suas faces, mas sim como um todo, um emaranhado de idéias que se entrecruzam, compondo fibras fortes e perenes. Há a necessidade de se abstrair mais ainda certos conceitos básicos como o de necessidade, poder, honra. Não é admissível degenerar um sentimento transformando-o apenas em um conjunto de sílabas. Seria simples demais.

“Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte”

Sigmund Freud


Tuesday, November 23, 2010

Identidade para quê?

A quem estou enganando?! Não sou mais o mesmo. As coisas se tornaram fáceis demais. O amor tornou-se previsível, as conversas repetitivas e as ações calculadas. Não há mais graça no jogo da vida. Já me é difícil surpreender-me com a simplicidade de um pôr-do-sol ou de uma chuva de verão. E eu sigo descalço pelo asfalto quente em uma silenciosa penitência. Caminho sem rumo, querendo perder-me para depois me encontrar e depois, perder-me novamente em meio a uma colcha de comodismos e pseudo-realizações. Quero me esconder sob o capuz da animosidade e tornar-me, no mínimo, subversivo e subserviente às minhas próprias vontades. Preciso do oposto, do outro, do ímpar. Preciso escapar do senso comum que apenas corrobora com aquilo para o que fomos condicionados.

“Gosto quando as coisas vêm a mim, como de súbito, revelando sua beleza eterna em um piscar de olhos. Depois as ignoro e volto à realidade de mais um dia febril”

Sunday, July 11, 2010

Enfrentamento Cognitivo

Abomino tudo que há de melhor em mim. Quero uma consciência inconsciente e irracional, livre de pudores e convenções sociais. Quero me desligar de tudo isso, sair desta realidade suspensa que porcamente escolhi. Preciso me desvincular de toda animosidade, de toda perfeição moral, de qualquer lampejo sentimentalista que nunca serviu para mim. Sou como uma hiena que chora ao dilacerar sua presa sem saber o motivo. Apenas coexisto com a apatia que se tornou o melhor em mim e morro por ser transigente, altruísta, previsível. Padeço em um mundo de palhaços que riem de suas imagens no espelho e não reconhecem o quanto são superficiais seus sentimentos. Quero sair pela rua descalço, sentindo cada caco de vidro, torcendo por uma infecção oportunista, uma saída (ou um recomeço) para qualquer lugar, qualquer dimensão. Um lugar para chamar de abismo, um punhado de terra sobre a palma da mão de Buda. Uma existência corrompida, sombria e triste, pois talvez seja disso que necessito para perceber que sou um ser pensante e não um duende risonho no jardim.

Monday, May 24, 2010

"Não me esqueça-me! Eu vou voltar"


Só poder sentar um pouco e ver tudo verdinho, lindo a crescer”
(Morro Velho)

Como eu gostaria de sentar à beira de um lago, talvez com os pés imersos na água, e olhar em volta, sem pudor algum, apenas observando as formas que se desvendam diante de mim. Por certo, depois de alguns minutos eu me cansaria e cairia no riso por me achar tão estúpido. Estaria ficando louco por não conseguir distinguir mais um ser humano. Parece que não há nada à minha frente além de silhuetas borradas, garranchos existenciais que se escondem por detrás dos patos, das árvores, do passadiço; todos tão mais nítidos para mim. Arrancaria meus cabelos tentando afrontar a loucura e devanearia como um tolo no fim da vida. “E passei tantas horas tristes, que mal quero entrar neste dia”. E choro copiosamente com meus olhos esfumaçados e meus garranchos estáticos em uma moldura barata. Passam as horas e sequer os patos reconheço mais. Meus pés pesam toneladas e meus braços teimam em me abraçar e minha boca teima em balbuciar um hino qualquer, enquanto verto sangue pelo meu olhar insano. O olhar de um velho cansado de brincar de “ser”, que pede, ao menos por hoje, para “estar” aqui, neste dia, neste parque; como algo mais do que um mero detalhe na paisagem.

Friday, April 23, 2010

Meu Último Desejo


"Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo

Numa festa de São João.

Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,

sem luar, sem violão.

Perto de você me calo, tudo penso e nada falo

Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo

você não pode negar

Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga

Se você me quer ou não, diga que você me adora

Que você lamenta e chora a nossa separação

Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto

Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida

Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim"

(Último desejo - Noel Rosa)

Obs
: Com este samba, Noel despediu-se de Ceci.
Toda a
amargura provocada pelo amor fracassado
aparece nesta
obra tão endereçada à
‘‘dama do cabaré'' que ele pediu ao parceiro
‘Vadico' que entregasse
a letra a ela.
Segundo contou Ceci ao jornalista, crítico

e historiador
Ary Vasconcelos, numa entrevista
para a revista ‘Fairplay', ela recebeu
a letra
junto com anotícia da morte
de Noel Rosa. João
Máximo e
Carlos Didier contam que, ao entregar
a letra,Vadico comentou:
‘‘Acho que ele te
castiga um pouco neste
samba, Ceci.'' É provável
que Cecitenha-se sentido castigada, mas Noel
contribui, sem dúvida,
para mais uma
obra-prima da música
popular brasileira.

Monday, July 06, 2009

Com um zumbido nos ouvidos brincamos eternamente

Começamos a perceber que estamos envelhecendo ao ver nossas amigas do primário com seus filhos, maridos, responsabilidades, vidas que se afastam gradativamente das de seus progenitores.

A pele perde sua elasticidade e as machas de insolação cobrem o corpo, pontos, círculos, reticências infinitas. As pontas dos dedos não mais alcançam o teto, convergem e dançam ao segurar o velho corrimão. Tudo parece tão mais distante e triste e cinza e blasé. E os olhos apenas olham o horizonte retilíneo e finito. O pôr-do-sol perde sua magia, as nuvens parecem apenas nuvens, e a chuva nos remete a inundações e catástrofes. Aquele dia especial virou uma piada sem graça e o próximo enclausura-se em seu mundo de aparatos tecnológicos e desnecessidades urgentes.



“E eu só quero sair pela manhã e beijar a chuva. Quero esquecer as chaves do carro e ter que ir caminhando até o infinito. Lutar por um punhado de auto-afirmação e um banho quente. Só preciso me ter por perto e nada mais. E as correntes quebrarão e a grama estará menos morta no verão e as pessoas... E as pessoas? Para quê elas servem?”

Reýk Odinsson